quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Pequeno Príncipe (arte em toda a parte)!

“Vivi, portanto só, sem amigo com quem pudesse realmente conversar, até o dia, cerca de seis anos atrás, em que tive uma pane no deserto do Saara. Alguma coisa se quebrara no motor. E como não tinha comigo mecânico ou passageiro, preparei-me para empreender sozinho o difícil conserto. Era, para mim, questão de vida ou de morte. Só dava para oito dias a água que eu tinha.
Na primeira noite adormeci, pois sobre a areia, a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Estava mais isolado que o náufrago numa tábua, perdido no meio do mar. Imaginem então a minha surpresa, quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha me acordou. Dizia:
- Por favor... Desenha-me um carneiro...
- Heim!

- Desenha-me um carneiro...
Pus-me de pé, como a
tingido por um raio. Esfreguei os olhos. Olhei bem. E vi um pedacinho de gente inteiramente extraordinário, que me considerava com gravidade. Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele.
Meu desenho é, seguramente, muito menos sedutor que o modelo. Não tenho culpa. Fora desencorajado, aos seis anos, da minha carreira de pintor, e só aprendera a desenhar jibóias abertas e fechadas.
Olhava, pois essa aparição com os olhos redondos de espanto. Não esqueçam que eu me achava a mil milhas de qualquer terra habitada. Ora, o meu homenzinho não me parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo. Não tinha absolutamente a aparência de uma criança perdida no deserto, a mil milhas da região habitada.

Quando pude enfim articular palavra, perguntei-lhe :
- Mas... Que fazes aqui?
E ele repetiu então, brandamente, como uma coisa muito séria :
- Por favor... Desenha-me um carneiro...
Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parece a mil milhas de todos os lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Mas lembrei-me então que eu havia estudado de preferência geografia, história, cálculo e gramática, e disse ao garoto (com um pouco de mau humor) que eu não sabia desenhar.

Respondeu-me :
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro.
Como jamais houvesse desenhado um carneiro, refiz para ele um dos dois únicos desenhos que sabia. O da jibóia fechada.
E fiquei estupefato de ouvir o garoto replicar:
- Não! Não! Eu não quero um elefante numa jibóia. A jibóia é perigosa e o elefante toma muito espaço. Tudo é pequeno onde eu moro. Preciso é de um carneiro. Desenha-me um carneiro.

Então eu desenhei.
Olhou atentamente, e disse:

- Não! Esse já está muito doente. Desenha outro.



Desenhei de novo : Meu amigo sorriu com indulgência:
- Bem vês que isto não é um carneiro. É um bode... Olha os chifres...





Fiz mais uma vez o desenho. Mas ele foi recusado como os precedentes :
- Este aí é muito velho. Quero um carneiro que viva muito.



Então, perdendo a paciência, como tinha pressa de desmontar o motor, rabisquei o desenho
ao lado : E arrisquei :
- Esta é a caixa. O carneiro está dentro.


Mas, fiquei surpreso de ver iluminar a face do meu pequeno juiz :
- Era assim mesmo que eu queria! Será preciso muito capim para esse carneiro ?

- Por quê ?

- Porque é muito pequeno onde eu moro...
- Qualquer coisa chega. Eu te dei um carneirinho de nada !


Inclinou a cabeça sobre o desenho :

- Não é tão pequeno assim... Olha ! Adormeceu...
E foi desse modo que eu travei conhecimento, um dia, com o pequeno príncipe.”
Capítulo II, O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry

* A exposição "O Pequeno Príncipe" está na OCA do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
(De terça a sexta-feira, das 9h às 19h
Finais de semana e feriados, das 10 às 20h)

www.opequenoprincipe.com


"Antes um capítulo de um livro do que não fazê-lo"

Um comentário:

  1. E eu recomendo MUITO este: http://www.oamordopequenoprincipe.com.br/

    Tão absurdamente lindo quanto.

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