quarta-feira, 19 de maio de 2010

“Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo.” (Dom Helder)



Não lembro onde nem quando li esta frase, mas lembro que ela me chamou a atenção, mesmo antes de refletir sobre ela.
Também confesso que não posso garantir que foi mesmo D. Helder quem escreveu.
Mas, enfim, isso não importa.

Ultimamente, tenho observado mais como nos acomodamos fácil com as coisas.
A gente se habitua a tudo, até ao que muito nos incomoda.
E vai vivendo assim, muitos até o fim, até que um simples pinguinho d’água esborre o copo já cheio.
Isso se o pinguinho acontecer.
Porque também se não, deixa estar. Não tá bom, mas também não é tãão ruim assim.

Aí, “por acaso” (porque não acredito muito nele), hoje, fazendo uma limpeza na minha caixa postal, eu me deparei com um e-mail que recebi há mais de 1 ano, que fala um pouco sobre isso.
Copiei um trechinho pra cá:

Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
...
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma
.”
(Marina Colasanti)

É bem isso mesmo.
E que atire a primeira pedra quem, em algum momento ou aspecto da vida, não se encaixa de alguma forma aí.

É claro que se habituar não é algo necessariamente ruim.
Às vezes, é preciso.
Mas o que tenho aprendido aos poucos, e nem sempre através de sorrisos, é exatamente o que diz aquela frase que dá título a este texto:

“Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo.”

Porque o primeiro passo, e talvez mais difícil, que podemos dar contra a tal acomodação é buscando a nossa própria mudança.

7 comentários:

  1. Adorei, Lou! Temos que estar sempre atentos quando chega a nossa hora de mudar. Acho que uma mudanca de vez em quando na nossa vida, pelo menos na minha, sempre foi bom!!

    Bjs

    ResponderExcluir
  2. "Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente.
    A gente muda o mundo na mudança da mente.
    E quando a mente muda a gente anda pra frente."
    Gabriel, o Pensandor

    É isso aí. O jeito é seguirmos em frente!

    Adorei a foto!
    ;)

    ResponderExcluir
  3. kkkkk.... Louise tu colocou oq p aparecer essa figura? Menina, esmagada, caixa? kkkk.... não pude deixar de lembrar do comentário de Robiloca!!! Eu ameeeiiii o texto!!! Acho que mantendo a essência devemos sim mudar sempre!!! Mas q é difícil é... bjinhos

    ResponderExcluir
  4. É uma das melhores crônicas de Marina Colasanti e, claro, das maiores verdades que incomodam a gente. (Ou, ao menos, que deveriam incomodar.)

    :*

    ResponderExcluir
  5. adorei cada palavra , bonito e profundo

    ResponderExcluir