sábado, 25 de julho de 2009

O Velho e o Moço


(sugiro escutar a música enquanto lê)


Amadurecer, morrer; é quase a mesma palavra.
Victor Hugo

Há quase 20 anos, durante uma das muitas viagens de fim de semana da minha turma de faculdade, no meio de uma festinha animada senhora cana, entre piadas e risos, eu e um colega fizemos um acordo de nunca amadurecermos.

Praticamente como uma diretriz, essa "promessa" me acompanhou por muitos anos...

Aquele acordo simbólico, de minha parte, baseou-se no orgulho que eu tinha do meu bom humor, alegria rotineira, e da minha decisão de não me levar tão a sério (em combate visceral contra meu superego).

O fato é que sempre fui avesso a pessoas radicais, circunspectas, pessimistas ou avarentas por julgá-las melancolicamente fracas, incapazes de saborear as belezas da vida por não resistir às vicissitudes por ela impostas. De certa forma, eu atribuía ao processo de "amadurecimento" a suposta aquisição de algumas dessas características por muitas pessoas, como uma herança gradual e inevitável do tempo.

Recentemente, ao completar 35 anos, lembrei-me daquele acordo e observei quanta inocência e radicalismo ele encerrava. É sempre bom lembrar, entretanto, que aos moços e aos velhos o radicalismo é até perdoável: aqueles ainda não vêem que o mundo é mais que “preto e branco”, enquanto estes últimos não conseguem (ou não querem mais) perceber suas nuances. Mas se a meia-idade ocorre quando você pára de criticar os mais velhos e começa a criticar os mais novos, definitivamente esse ainda não é o meu caso.

O nascimento de minha filha há exatamente 1 ano e 1 mês, este sim, foi um divisor de águas pra mim. Ter sob minha inteira responsabilidade outro ser humano é algo realmente instigante. Todas as noites, após lhe dar a mamadeira, fico contemplando ela ali, confiante e tranqüila, naquele sono sereno em meus braços. Quanta responsabilidade literalmente em minhas mãos...

É justamente a convicção de que não sei todas as respostas, e algum bom senso em buscá-las quando necessário, que trazem a crença de que hoje estou maduro ao menos o suficiente para enfrentar esse desafio. Por outro lado, é inegável que tenho saboreado cada novidade, cada experiência, cada capítulo dessa história com a mesma alegria e vibração, a mesma fé e dedicação, com o mesmo deleite e intensidade tão comuns a mim desde aqueles já longínquos anos.

Apesar de ainda não ter sequer conseguido "dizer não, toda vez que é não" (o Gabriel Garcia só aprendeu depois dos 40!), eu concluí que talvez esteja amadurecendo, sim, mas...
"Sin perder la ternura”, por enquanto.

A ampulheta não me assombra mais...

6 comentários:

  1. Só sei que nada sei...

    Libertador, não? ;o)

    Adorei!

    Bjs!

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  2. Finalmente alguém mais com "marcadores" no texto.

    Adorei o texto... e nem precisei escutar a música enquanto lia (uma questão de gosto pessoal).

    ;)

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  3. Independente de quanta estrada ainda haja pra andar, o que mais importa eh realmente 'nao perder a ternura'!

    Amei, Noh!
    Vc sabe que gosto de filosofar de vez em quando. hehehe...

    P.S.: To aqui apanhando deste teclado maluco! Linguinha esquisita essa, viu! To aqui na Republica 'Checa', como os portugas falam! rsrsrs...

    Bjos

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  4. Poxa... caramba... sério mesmo... Li 3 vezes... me senti super bem com esse texto Noh!!! "O fato é que sempre fui avesso a pessoas radicais, circunspectas, pessimistas ou avarentas por julgá-las melancolicamente fracas, incapazes de saborear as belezas da vida por não resistir às vicissitudes por ela impostas"... eu sempre quiz falar isso que vc disse aí, mas não sabia como dizer de uma forma que levassem a sério!!! Nota 1000000000000000000000000000000

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  5. Adorei, Noh!

    Sábias palavras!!

    July :)

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